Transfobia do dia a dia


*le eu aqui sentindo que ando a falar demasiado sobre lgbt+*
Primeiro, quaisqueres outras novidades serão mencionadas no fim do post; Segundo, eu tenho lido os comentários e, gente, eu adoro-vos. A faculdade vai ficar mais leve durante um tempo a partir de hoje e tenciono até responder a todos os comments este fim de semana.

Então, eu fico mesmo contente por não me deixar desencorajar sempre que alguma saída do armário não corre tão bem como esperado, porque agora todo o meu grupo de amigos mais próximo da faculdade sabe que eu sou bi, e as duas últimas pessoas a quem eu contei tiveram uma reação breve mas que me fez feliz: uma pessoa fez-me rir tentando enganar-me (fazendo de conta que era homofóbica, mas de forma nada credível e com um just kidding logo a seguir, para não me assustar demais), a outra ofereceu apoio e disse que gostava que os seus amigos fossem honestos consigo. Então, lindo <3

Mas a verdade é que, se sair do armário em termos de sexualidade é difícil, em termos de género deve ser ainda pior. Venho só reclamar de uma piada transfóbica que ouvi hoje e que me incomodou um bocado.

[OBS: não, eu não resisti aos gifs da Allura]
Só em defesa da pessoa que fez a piada, ela é o tipo de gente que faz piadas com tudo, mas que normalmente reconhece logo depois quando o comentário foi ofensivo para alguém ou para algum grupo social - ainda no outro dia, umas miúdas perguntaram-nos (por conta de: roubarmos o lugar que elas tinham *cof*reservado*cof* com mochilas para almoçar) se nós tínhamos problemas. A pessoa respondeu-lhe de forma bem controlada, mas quando as miúdas se foram embora, virou-se para o meu grupo e "E se eu tivesse feito de conta que tinha mesmo?" e fez uns sons. Que foram realmente hilários. Mas poucos minutos depois ela disse que sabia que piadas com deficientes e autistas eram das piores de todas, e que ela dissera aquilo mais no sentido "E se nós tivéssemos mesmo problemas?". Enfim, reconheceu que não foi uma coisa muito correta, e desde que alguém tenha consciência do impacto das suas ações, é facilmente desculpável. Até supostos "ships problemáticos" eu perdoo de boas se a pessoa souber que não são a melhor coisa para romantizar nas condições canon - Hina-clone, estou a pensar no seu ship de Gintama ;) Anyway, não só a pessoa reconhece o que faz, como na verdade já teve uma grande conversa comigo ~essa conversa foi mencionada no post passado~ onde mencionou que, se o namorado que tem revelasse que, afinal, era namorada, continuaria a namorar, pois daria prioridade ao sentimento e o género não serviria de obstáculo.

O que me deixa ainda mais bugada: parece estranho que uma pessoa nada transfóbica nos seus momentos mais sérios diga coisas transfóbicas. Contudo, não deveria ser de estranhar tanto assim, afinal grande parte da comunidade lgbt+ passou parte da vida a ser preconceituosa consigo mesma ou outras minorias da comunidade, há mulheres machistas e POC racistas. Se casos assim tão contraditórios são possíveis, porquê que algo menos polar não poderia ser?

A piada foi algo estilo meme, aqueles do trigger, mais ou menos nestas linhas e acompanhada de expressões engraçadas: *um bebé nasce* *Enfermeira: É uma menina!* *Bebé: did you just assume my gender?!* 

O que eu nunca consideraria rude há um ano atrás, mas que agora acho imensamente escroto. Essa piada nem está a gozar com a identidade trans em si, mas com o facto de incluir essa identidade como uma experiência real no dia-a-dia. Para mim, a mensagem que essa piada passa é: tudo bem se a pessoa um dia se revelar trans/não-binária/não-cis, mas até lá vamos tratá-la como do género que se espera que seja > meaning: o que tem no meio das pernas <
E isso é tão problemático que eu até tenho de criar tópicos para explicar porquê:
  • A inclusividade é tratada como algo desnecessário, que dá trabalho e até ridículo, quando é na verdade algo EXTREMAMENTE necessário. Se as pessoas fossem inclusivas na linguagem (usando pronomes neutros e inclusivas de todas as sexualidades), e parassem de presumir que sabem coisas sobre as pessoas (que são de certo género ou sexualidade, com base em nomes/estilos pessoais/pessoa com quem se relacionam/etc), não haveria tanta pressão na hora de alguém assumir a sua identidade.
  • Passa uma noção implícita de que seria quase um insulto passar a considerar que qualquer pessoa pode ser trans ou não-binária, como se isso fosse algo "anormal" e se devesse tratar as pessoas como "normais" até prova em contrário. E eu quase percebo: muita gente cis fica chateada quando lhe perguntam quais os seus pronomes, como se estivessem a insinuar que ela pudesse ser trans com base nas roupas, ex: lésbicas com cabelo curto ou estilo butch são frequentemente questionadas sobre o seu género. Mas, e embora haja mesmo gente que pergunte isso para ofender, é importante reconhecer que nem toda a gente pergunta isso com más intenções e que às vezes a pessoa está mesmo a certificar-se de que não insulta ou invalida ninguém. Se mo tivessem perguntado há um ano, eu pensaria "Fogo, estão a insinuar que pareço um homem?", mas agora pensaria "Essa pergunta é excelente, se eu não fosse cis faria toda a diferença para mim". É preciso mais empatia. E é preciso parar de ver como insulto quando alguém nos confunde como um reflexo de outras identidades.
  • Assumir o género de alguém pode, e costuma, desencadear disforia. Então não se devia brincar com isso, ponto. Eu já acho uma merda que gente bi+ ou assexual seja considerada hétero/gay/lésbica conforme o género das pessoas com quem estão, ou hétero se estiverem solteiras, mas pelo menos a invisibilidade não se faz presente a toda a hora pois palavras que evidenciem sexualidades não estão sempre a ser proferidas. Com géneros? Se eu fosse trans e ninguém respeitasse os meus pronomes ou nome social, eu acho que preferiria ser surde(o) - o que é uma coisa chocante a desejar (embora ser surdo não seja um problema em si e sim algo que merece respeito, eu gosto muito de ouvir, obrigada!), mas eu não acredito que fosse capaz de evitar ter depressão de outro modo. Eu não acredito que fosse capaz de ouvir o meu nome sem sentir que ele era culpado por fazer as pessoas percepcionar-me erroneamente. Eu não conseguiria ouvir "Ela é uma boa aluna" sem sentir que se estava a falar de outra pessoa, sem desejar que essa frase se referisse a outra pessoa. Eu não conseguiria ingressar em causas feministas sabendo que, por enquanto, muitas pessoas ainda defendem o aborto como um direito das "mulheres", principalmente sabendo que, se eu fosse trans e ficasse grávide/grávido, os cuidados específicos de que precisaria nunca seriam atendidos, e que as ofensas ao meu género seriam usadas para me fazer sentir culpade(o) (caso eu tivesse o aborto permitido e não me sentisse grate(o) que bastasse só por isso). Eu não conseguiria usar pronomes femininos para mim sem sentir que perpetuava a minha própria opressão. Roupas, casas de banho, são tudo coisas que outras pessoas poderiam usar conforme o seu género, mas eu não poderia.

Eu não sou trans, nem não-binárie. E não quero perpetuar a ideia de que todas as pessoas trans sentem disforia (aliás, algumas até sentem euforia de género, que é o oposto: felicidade em ser percepcionadas como sendo do género correto, mas perto de nada se forem referidas incorretamente). Contudo, acho que estou informada o suficiente para entender um pouco de como é o dia-a-dia dessas pessoas, ou para me lembrar delas no dia-a-dia, e não só quando me convém ou estou a falar de temas lgbt+. O suficiente para reconhecer que podem estar presentes na mesma sala que eu, porra, para usar linguagem inclusiva sempre que sei que não me acharão doida. E a verdade é que, apesar de isto talvez ser exagerado da minha parte, quando vou às casas de banho da escola e vejo recipientes onde se lê "Apenas produtos de higiene feminina", acho irónico e muito triste que se considere que só mulheres menstruam. Dói para caralho quando a minha sexualidade não é considerada (o que também não é experiência universal, mas é a minha e, conhecendo-me como me conheço, sei que gosto de ser fiel a mim mesma em tudo o que faço a toda a hora). Se eu fosse de outro género... acho que agonizava. 

Eu não tenho coragem para dizer estas coisas que penso em voz alta, na faculdade ou simplesmente em espaços não-lgbt+, porque sei que seria julgada e chata. Mas pelo menos tenho a decência de não rir junto

Não quero que julguem a pessoa que fez a piada, que é aliás bastante amiga minha e das pessoas mais conscientes que há por aí, até porque tenho a certeza de que perceberá se eu falar com ela. Só escrevi enquanto desabafo, e maneira de pedir que tenham cuidado com as vossas próprias palavras, porque até gente bem intencionada comete alguns deslizes por se esquecer de que palavras magoam. Se fosse só uma piada... só que não é. Não é só uma coisinha irrelevante, e mesmo que fosse, se incómodos menores se repetirem com muita frequência, tornam a vida de uma pessoa um inferno. 

Lembrei-me de uma postagem no tumblr que comparou micro-agressões com picadas de mosquito. Quem não pertence a minorias sociais olha para o problema e a reação é: "Porquê que esta gente se queixa tanto? É só uma picadela de mosquito!". O problema é não ser só uma - há quem receba picadas todos os dias, a toda a hora, e apesar de a metáfora parecer engraçado, não só seria uma experiência horrível, como pode matar [tentei encontrar o post, que era na verdade tirinha, mas não consegui].

E era isso.

Eu realmente queria atualizar o blog com novidades, mas acho que farei um post só para isso amanhã ^^
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7 comentários:

  1. "le eu aqui sentindo que ando a falar demasiado sobre lgbt+" MAIS DO QUE DIGNO ESSES POSTS, AINDA MAIS VINDO DA NOSSA ESPECIALISTA EM NO.6 E RAINHA DA REPRESENTATIVIDADE ANY-CHAN U-U

    YOOOO ANY-CHAN ~sim, fazendo maratona aqui no teu bloguinho, porque néh... TENHO QUE APROVEITAR ESSE TEMPINHO MAROTINHO QUE APARECEU, já que semana que vem eu vou chorar litros com minhas provinhas ç-ç~

    NEM FALE DO MEUS SHIPP SEDUÇÃO DE GINTAMA! ATÉ TAQUEI ESSA DESGRAÇA COMO TEMA DO MEU NOVO LAY <3 sashuashuashua mas convenhamos que aquela fanart de fundinho tava MUITO FENHAAAAA! Mas, sim eu sei que aquele shipp é errado pakas E SEI QUE NÃO TEM PORRA NENHUMA DE INTERAÇÃO ROMÂNTICA ENTRE O GINTOKI E A KAGURA, mas por motivos de ser retardada eu fui no google de curiosa ver se tinha alguém no mundo que shippasse eles juntos E EU DESCOBRI UM TSUNAMI DE FARTAS FOFAS E MUITO KAWAIIZUDAS CHEIAS DE FEELS E TRAGÉDIA, NA MAIS ALTA PURPURINA QUE EU TANTO AMO! Então, eu afundei legal por causa disso. Mas, pelo menos as minhas doujinshis e fanarts favoritos do casal são com a Kagura já maior de idade <3 (ou então são fanarts muito fofenhas, sem conteúdo pesado e talls).

    Okss, agora focando no post: Sério, eu mal conheço essa pessoinha, mas já respeito ela pakas! Essa garota parece ser muito gente boa, além de me parecer ser mó zuerinha xD Mesmo que ela faça piadinhas com conteúdo mais "ácido", pelo menos ela sabe reconhecer quando pega muito pesado, isso é super bom, pois mostra que é o tipo de pessoa que sabe parar para pensar, e eu tenho certeza que tu pode chegar super de boas pra ela e falar que essa piadinha que ela fez não foi legal, que mesmo assim ela irá ouvir e reconhecer que pegou pesado.

    Enfim, eu não sei como costuma ser o humor aí em Portugal, mas aqui no Brasil as piadas são geralmente mais "pesadas", a gente zua tudo mesmo, e muitas vezes o conteúdo pode ser mesmo ofensivo. Esses dias mesmo no tiozão face vi um meme assim: Eram 3 "pares de pessoas", o primeiro par eram dois homens, o segundo era um homem e uma mulher e o terceiro duas mulheres, e logo abaixo tinha a frase "Quantos casais você vê nessa imagem!?" (e era uma página de zueragem), ou seja: "ah, vamos brincar pra ver quem é mais homofóbico aqui \O/" ~pelo menos foi essa a sensação que eu tive '-'~

    Aliás, muita gente também diz que antigamente dava pra fazer zueragem com isso de boas que ficava tudo de boas, mas que agora é tudo mimimi, não pode fazer uma piadinha que já ficam de mimimi e talls. Mas, eu acho que não seja mimimi, a pessoa só tá de saco cheio de ficaram fazendo piada com algo que ela considera ser importante pra ela. Tipo, é que nem você disse "se fosse apenas uma picada de mosquito....MAS SÃO VÁRIAS", é tipo toda a hora, todo santo dia, é claro que a pessoa vai encher o saco e querer mostrar que esse tipo de piada é chata. Aí tipo, o engraçado é que se a pessoa fica quieta e se deixa abalar com isso o pessoal fica "Ain, nossa que pessoa fraca não pode ouvir nem uma piadinha que já fica deprê, mó mimimi", aí a pessoa revida e mostra que não curtiu a piada e que explica os motivos "Ain, nossa que revolts, só mimimi" ASSIM TAMBÉM NUM DÁ PRA CRIATURA SER FELIZ! Parece até facebook, que pra onde tu vai, é só pedrada na cara.

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    1. "um insulto passar a considerar que qualquer pessoa pode ser trans ou não-binária," O parágrafo desse trecho até me lembrou sobre tu me perguntando se eu era assexual XD SÉRIÃO, EU TINHA 100% DE CERTEZA QUE MAIS CEDO OU MAIS TARDE TU VIRIA COM UMA PERGUNTA DESSE TIPO! De vez em quando eu me assusto com esses meu poderes de vidente XD Sem mencionar que a tua teoria se encaixava bem comigo, pois 1- eu não falo muito sobre namoro e 2- Eu sou tão desligada, mas tão desligada que era bem capaz mesmo de eu ser assexual e nem ter dado conta. Mas, no final das contas tudo se resume a timidez e um tantinho de bipolaridade (pois tem dias que eu tô tipo "MEU DEUS EU QUERO UM MACHO PRA MIM", mas tem outros que eu tô "MEU DEUS, ME DÊ TUDO MENOS UM MACHO PRA ME ENCHER O SACO".......Aliás, vi um meme assim na internet sobre o signo de peixes que descrevia 100% como eu me sentia ~p.s: eu sou de peixes XD~). Enfim, mas focando nesse parágrafo, não entendo porque consideram ser um insulto, pô a criatura até deveria entender que a pessoa que pergunta isso para ela está apenas querendo ser gentil, está sendo atenciosa, pois quer tratar ela da maneira correta, PORRA A PESSOA TÁ SENDO TIPO MÓ CUTE CUTE, QUERENDO SER MÓ DE PAZ E AMOR, e aí a outra fica achando que tão insultando ela... Enfim, ser humano é um bicho meio louco mesmo.

      OBS 1: Tô a tempos pra perguntar, mas o que exatamente seria o termo "miúdas!?" (seria pra se referir a meninas mais novas que vocês!?)

      OBS 2: Ouvi boatos num certo post passado que alguém aqui até iria responder os comentários no final de semana, BOA SORTE COM OS MEUS MUAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH ~sim dessa vez vou querer mesmo que tu responda os meus também u-u.....okss não precisam ser todos, mas pelo menos um já tá valendo *u* [insira uns olhinhos brilhantes e cara de cachorro abandonado]~

      Kiss

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    2. Eu nem sei como reagir com um elogio desses, “rainha da representatividade” >///<

      Fico contente com essa maratona e por esse esforço em vir aqui comentar logo em dois posts, não sei como é que você arranja tempo porque a minha pessoinha esteve um bom tempo ocupada com a faculdade, aliás, já comentando o que você disse no outro post “Aquele momento em que a situação tá tão tensa, mas tão tensa que quando eu finalmente chego para comentar nesse post JÁ TEM POST NOVO NO BLOG Ç-Ç “. Como eu sempre digo, mais vale tarde que nunca! E assim é da forma que só gasta um dia a comentar – mas não faça como eu, que acumulo tanta coisa para fazer que depois não arranjo dia para dar conta.

      Haha, sei de muitos ships que nunca teria apenas devido ao canon, pois não há quase nenhuma interação oficial com uma conotação romântica, mas que graças aos fanarts e fics, foram diretamente parar ao meu kokoro. Aliás, eu amei o tema do seu lay, os verdes suaves, a bordinha serrilhada na área de post, o ler mais ao lado da data… Está LINDO, e eu própria não sei se conseguiria fazer uma organização daquelas. Mas enfim, voltando ao ship: a diferença de idades talvez seja problemática em si, mas lá está, desde que você tenha consciência disso, já é bom. Além disso, quando você começou a shipar julgava que as idades eram mais aproximadas e os fanarts/fics/djs de que gosta são ou bem inocentes ou têm a Kagura mais velha – tb valia se fossem ambos mais velhos, pois apesar de a diferença de idades ainda ser grande, já não se poderia considerar propriamente pedofilia. A questão é que às vezes faz mais dano problematizar demais do que deixar a pessoa ter o seu shipp e perceber por si que não é a coisa mais ideal do mundo – estou a pensar no caos que foi com o fandom de Voltron, pois muita gente shipa Sheith (Shiro x Keith, que nem são o meu ship predileto, mas têm o seu quê de bonito também), e como o Keith deve ter 17 ou 18 anos e o Shiro tem 25, as fãs de Sheith sofreram horrores com pessoal problematizador que não se sabe comportar e as foi chamar de pedófilas, dizendo até que o relacionamento deles não seria nada saudável quando está claro que ambos os personagens se respeitam muitíssimo. Poucas são as fãs de Sheith que não prefeririam que as idades fossem mais próximas e que retratam tal nos seus trabalhos de fã – dizer que elas romantizam um detalhe que na verdade nem lhes agrada é um golpe muito baixo, e na verdade várias shipadoras de Sheith são pessoal muito mais consciente que que quem só tem ships não-problemáticos.

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    3. Anyway, sobre essa rapariga, ela é sim muito boa pessoa – e na verdade eu meio que já falei com ela sobre o que fez. Acho que fiou um bocadinho magoada, mas reagiu bem, ainda que um pouco na defensiva. Estou a mencionar isto porque é engraçado rever-me nessa atitude: agora, se me chamassem a atenção para algum comportamento menos perfeito no que toca a minorias sociais, eu admitiria imediatamente que o erro era meu, que não estava informada o suficiente e que de certeza ainda guardava muitos preconceitos sem ter noção deles, e nem creio que me sentiria culpada por isso – aliás, não seria muito correto sentir-me culpada por isso - pois culpa é um sentimento que não serve de nada e que valida mais os meus sentimentos do que o sentimento de quem magoei, sendo que eu devia apenas responsabilizar-me e tratar de mudar o mais depressa que fosse possível para mim. Contudo, no começo, eu era pessoa para ficar um bocado irritada porque as minhas intenções eram boas, então provavelmente parecer-me-ia mesquinho e um bocadinho cruel por parte da outra pessoa acusar-me de ter preconceitos. Foi preciso No.6 para me fazer começar a conhecer-me e aceitar-me, e o ano passado inteiro, em que eu me dediquei a descontruir-me, para eu começar a ver que nunca saberei tudo e que dificilmente compreenderei a experiência de alguém a 100% >.< É muito irónico, porque a sociedade parece dizer que não ter preconceitos é fundamental e isso aliena as pessoas, fazendo-as acreditar que, como são boa gente, não têm preconceitos – quando, na verdade, o que está correto é reconhecer que os teremos sempre e estar receptivo a tentar melhorá-los.


      E na verdade, eu nem me importo com piadas bem humor negro, desde que sejam feitas precisamente para ressaltar a ironia da coisa, e não para desvalidar. Aliás, até as próprias comunidades lgbt+ têm uma série delas, e estou até a pensar em fazer um post só com isso xD Se tudo correr bem, começo a prepará-lo hoje! Voce captou perfeitamente o problema – nem é talvez as piadas em si, mas a frequêcia com que é dita. Aliás, o mesmo se passa com estereótipos: não é que eles retratem algo que não exista, o problema é que determinado comportamento é representado com tanta frequência e associado sempre ao mesmo grupo de pessoas, que quem assiste começa a acreditar que uma coisa implica a outra. E às vezes, a própria pessoa que pertence a um determinado grupo é afetada, ficando confusa (“Será que eu não devia ser assim para ser realmente trans?”), sentindo-se culpada (“Eu realmente sou como a pessoa mostrada, então estou a ferir a minha comunidade por reforçar um estereótipo”) ou irritada com as expectativas e perguntas de quem está à sua volta e não se dá ao trabalho de se informar. E é verdade, as pessoas reclamam de tudo.

      Haha, eu até me identifiquei bem com essa crise: “pois tem dias que eu tô tipo "MEU DEUS EU QUERO UM MACHO PRA MIM", mas tem outros que eu tô “MEU DEUS, ME DÊ TUDO MENOS UM MACHO PRA ME ENCHER O SACO”"- só que para mim o género não importaria xD E eu nem sabia o seu signo, mas é engraçado por o signo carneiro/áries (que é o meu) se dá muito bem com peixes e sempre tive bastantes melhores amigos que eram peixes.

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    4. E é exatamente isso, não percebo porquê que algumas pessoas se sentem insultadas quando a pessoa que faz a pergunta se está a oferecer para respeitar a pessoa. Eu acho que as pessoas que ficam irritadinhas se esquecem de que identidades para além das suas também são bastante reais, e que a vida de quem se identifica com elas ficaria muito mais fácil se toda a gente as validasse e considerasse. Por exemplo, há até pessoas trans que compram t-shirts a dizer “Ask me my pronouns”, precisamente porque a maioria das pessoas nem considera fazer isso. E por exemplo, no tumblr, é normal as pessoas terem na side dos seus blogs laterais algo como “nome | idade | pronomes”, mas na vida real elas não podem simplesmente apresentar-se e dizer quais são os seus pronomes, pois não sabem se a outra pessoa reagirá bem ou se a situação poderá ficar tensa. Seria muito melhor se fossem as outras pessoas a oferecer-se para perguntar – agora, se o pessoal cis ficar ofendidinho, quem costuma ter consideração para perguntar os pronomes também vai começar a ficar desmotivado para fazê-lo. Ou seja, gente cis revoltada só cria confusões.

      “Miúdas” refere-se a raparigas novas, mas não necessariamente mais novas que quem usa o termo.
      Jaa!

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  2. Yooo Anyyy!!!
    Não apareci aqui nas últimas semanas por causa do tormento dos últimos vestibulares e das inscrições pra faculdade, mas caralhas, que posts lacradores lgbt+ são esses? Estou adorando, até porque você é uma das pouquíssimas blogueiras que acompanho que fala sobre esses temas, e sempre de um jeito tão real *---------------------* *vomitando arco-iris* E me identifico muito com as situações que você narra.

    Seus amigos parecem muito gente boa, ainda bem que tu tens gente assim ao seu redor! Incluindo essa garota, afinal tudo mundo pisa na bola as vezes e sem nem mesmo perceber *cof cof* eu tbm.
    As vezes eu fico meio travada na hora de conversas sobre essas coisas com meus conhecidos, caso eles façam algum comentário ofensivo, porque SEMPRE pago de chatona e problematizadora. Mas ainda bem que tenho amigos que apoiam minhas tretas (que são mais pra conversas pacientes e uma série de questionações pra pessoa em questão) <3 (E olha que as coisas tão uma bagunça de discussões aqui no Brasil com a legalização do aborto eheh)
    Além do mais, piadas sempre serão mais que piadas, elas revelam muito da sociedade em questão e do que é normal para ela, e é por causa desse "normal" que temos que nos desconstruir e questionar sempre :)

    Ps: eu surtei quando vi o titulo da postagem, pois comecei hoje a ler o (mais) novo livro do Rick Riordan (GOSTOSO! tá, sou mesmo um pouco fangirl) “O Martelo de Thor”, e porra, TEM UMA PERSONAGEM MUITO FODA QUE É GENERO FLUIDO!!!!! E TUDO INDICA QUE SERÁ O INTERRESE AMOROSO DO PROTAGONISTA!!! EU TO SURTANDO AQUI!!! <33333333
    Inclusive, tem uma passagem que o Magnus faz uma espécie de reflexão para entender a fluidez dx Alex que eu achei simplesmente genial:
    “Eu vivi preso a um gênero a vida toda. Nunca me incomodou. Agora, eu me perguntava como isso seria para Alex. A única analogia que consegui elaborar não era muito boa. Minha professora do segundo ano, a srta. Mengler (também conhecida como srta. Monga), me obrigava a escrever com a mão direita apesar de eu ser canhoto. Ela prendeu minha mão esquerda à mesa com fita adesiva. Minha mãe ficou furiosa quando soube, mas eu ainda me lembrava da sensação de pânico de ficar preso, forçado a escrever de uma maneira nada natural só porque a srta. Mengler insistiu. ‘Esse é o jeito normal, Magnus. Pare de reclamar. Você vai se acostumar’.”
    (O bom de ler em pdf é que dá pra copiar trechos inteiros de uma vez hahah)
    Enfimmmmmmmm, maravilhoso <3

    Okks okks, me empolguei e preciso ir ou vou me atrasar pro aniversário da amiga!
    Até mais! Kissus!

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    1. PÁRA TUDO QUE EU TENHO DE SURTAR: O RICK RIORDAN CRIOU UMA PERSONAGEM GÉNERO FLUÍDO????? Isso é fantástico, ele está a tornar-se um dos autores mais pró-lgbt+ do mundo e ainda por cima escreve livros juvenis, o que significa que os seus fãs virarão adultos bem descontruídos e é tão isso que faltava na coleção de harry potter! Acho que é aí que se vê a diferença entre os autores: a JK Rowling fica toda irritadinha quando alguém sugere que certa personagem poderia ser lgbt+, nega com insistência e depois ainda quer os louros como se o Dumbledore gay fosse alguma representatividade - já o Rick, que tem um casal do mesmo género canon e deuses bi+ (bi, pan, poli, multi, ambi, omni, whatever, não creio que para deuses faça diferença), ainda está a almejar mais alto e agora tem uma personagem género fluído. Eu nem acabei de ler a coleção de PJ, mas só com isto já me sinto motivadíssima. Já agora, esse é o segundo volume da coleção da mitologia nórdica? E essa analogia tão querida por parte do protagonista traduz bastante bem como deve ser a sensação e é um ato que denota empatia, como é tentarmos pôr-nos no papel do outro <3 <3 <3 <3 <3

      "Incluindo essa garota, afinal tudo mundo pisa na bola as vezes e sem nem mesmo perceber *cof cof* eu tbm." - exatamente, e para eu não me estar a repetir, vá ver o *pausa para contar* quarto parágrafo do meu comentário de resposta para a Hinata. E eu não me atrevo a falar muito sobre representatividade e afins junto da maior parte da minha família porque não acredito que daria em nada, portanto desde que eles não façam comentários muito preconceituosos, dá para eu calar a boca, mas é bom ter gente a quem confiar tudo isto.

      Fico feliz por você se identificar com os meus posts lgbt+ e por eu trazer conteúdo constante sobre o assunto. Pode ter a certeza de que ainda há muito por vir ;)

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